11 de dezembro de 2015

Banco de sementes cultiva cidadania e independência de agricultores de Garanhuns

Iniciativa do IPA foi inaugurada nesta quinta (10) e celebrada com emoção por 20 famílias da comunidade de Sítio Cruz

 

“Isto aqui está uma riqueza”. Foi dessa forma que o agricultor Valdir Luiz Severino dos Santos, 63 anos, expressou a emoção na inauguração do Banco de Sementes Sítio Cruz, em Garanhuns, onde mora há 38 anos e sempre cultivou sementes crioulas. A ideia é preservar as sementes nativas, que são conservadas pelos agricultores há muitas gerações, mas estão em risco de extinção.

Seu Valdir lembra que um primeiro banco já existiu na comunidade, há cerca de 40 anos, mas foi perdido com o tempo. De acordo com ele, os agricultores estão mais conscientes e sabem que, ao contrário das sementes modificadas, as crioulas quase não levam agrotóxicos e podem ser replantadas a cada safra.

“Hoje é o resgate também da vida, da cidadania, da independência, porque a gente não precisa mais comprar semente e nem pedir, que é pior, é feio. É a volta do associativismo, do coletivo, do solidário, do que tem coração, amor, alma. O mundo está pedindo que a gente tome conta da nossa terra”, declarou o agricultor que herdou a tradição dos avós e dos tios.

A agricultora aposentada Teresa Vilela é uma das fundadoras da comunidade e ressalta a importância de que todos estejam engajados para o sucesso da iniciativa. “Essa é a semente da união e do mutirão. Temos que viver em união, trabalhando em mutirão, sem pensar no dinheiro e começando agora”, conclamou dona Teresinha, como é conhecida.

Projeto – O banco de sementes faz parte da tradição cultural dos produtores, que plantam, colhem e armazenam para o replantio no ano seguinte. O diferencial é a coletividade da ação que, tradicionalmente, é realizada na casa de cada agricultor. A ideia do projeto é facilitar o acesso do homem do campo a outras variedades, promovendo a disseminação e multiplicação das sementes crioulas.

O Banco de Sementes Sítio Cruz está instalado dentro da Associação Comunitária Nova Vida, que fica na comunidade. Inicialmente, participam 20 famílias de agricultores de base familiar, com 300 quilos de 15 variedades de sementes crioulas, que serão replantadas no próximo inverno, em maio de 2016.

“Hoje é um dia de festa para a comunidade. Estamos concluindo a etapa de um trabalho que começou antes da primeira roça, estamos começando um banco de sementes crioulas adaptadas à região, ao nosso clima e que servirá de exemplo para outros lugares. É a vida em nossas mãos”, declarou o extensionista do IPA Pedro Balensifer.

Além das sementes já armazenadas nas garrafas pet, o banco conta com dois vasos de silo, que comportam 60 quilos de sementes cada um, dois tambores plásticos, duas estantes para armazenamento das garrafas e uma balança que realiza pesagem de até 180 quilos. “Nós estamos construindo sonhos, autonomia, memória, a identidade de cada agricultor”, observou a extensionista do IPA e coordenadora do projeto, Mônica Nunes. A iniciativa da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária (Sara) será executada pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), que realizou o projeto amparado pelo edital MDA CNPQ no38/2014.

Crioulas - Conhecidas como “sementes tradicionais”, são desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas. As variedades possuem como característica a adaptabilidade local, independente da qualidade do solo. O agricultor tem domínio total do processo de produção, que exige menor utilização de insumos ou adubo e pouco uso de agrotóxico. A conservação desta cultura faz parte de uma campanha mundial de soberania dos povos quanto à posse de suas sementes, como estratégia de segurança alimentar e de perpetuação da cultura e identidade dos agricultores.

Fonte: Núcleo de Comunicação do IPA