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A merenda que faz toda a diferença

publicada em 13-08-2010

Agreste // Agricultura familiar no cardápio dos estudantes melhora a saúde dos alunos e reduz a evasão escolar

Quando o suflê de repolho faz sucesso na merenda escolar, há algo diferente na receita. E não precisa ser, necessariamente, nos ingredientes. As refeições oferecidas nas escolas públicas municipais do Brejo da Madre de Deus, a 190 quilômetros do Recife, mudaram no início de 2010. Desde então, além do "gosto" pelo repolho, os estudantes descobriram outro potencial da cidade: a produção da agricultura familiar.

 

As escolas do Brejo foram as primeiras nas regiões Norte e Nordeste a incluir os produtos das famílias da região no cardápio diário. Uma iniciativa que aumentou a variedade de alimentos, melhorou a saúde dos alunos e reduziu - inclusive - a evasão escolar. Do outro lado, na fonte, garantiu tambem uma renda segura aos moradores da área rural. 

 


A prática está prevista em lei federal desde junho do ano passado. Na cidade, começou a ser implantada em janeiro e, a partir de março, foi formalizada com chamadas públicas. A nutricionista responsável pelo projeto e atual secretária de saúde, Maria do Socorro Farias, esclarece que o projeto surgiu da percepção do potencial agrícola do município. No histórico, está a manutenção de uma feira de orgânicos por mais de 20 anos e o título de único produtor orgânico de morangos. "Temos uma tradição forte em agricultura familiar e orgânicos. Com essa saída, movimentamos a economia local e melhoramos a qualidade da merenda", resume. Segundo o levantamento da prefeitura, a região tem 1.500 agricultores habilitados para comercializar os produtos.
 

Até o momento, três associações estão participando da compra pela chamada pública, sendo uma de orgânicos, uma de mel e outra mais diversificada da agricultura familiar. Com a nova modalidade, o cardápio passou por uma adaptação para seguir as estações dos produtos. Em época de cajá, o suco é de cajá. Quando é período de umbu, o suco também é. "As crianças se acostumaram, por exemplo, a consumir mel. O suflê de repolho foi outro sucesso. Quando é feito com carinho e boa qualidade, as crianças se animam e comem até fígado", ressalta Socorro. Ela conta que, nas primeiras férias escolares depois da nova merenda, algumas crianças chegaram a bater na porta das merendeiras, também vizinhas, para saber qual seria o cardápio

"As crianças sentiram a mudança e ficam querendo saber o prato do dia. Quando chegam, perguntam logo", disse Valmery de Lima Silva, merendeira há dois anos. Por turno, são servidas duas refeições. Na entrada, um lanche (suco, vitamina ou fruta) e, mais, próximo ao horário do almoço ou jantar, uma merenda mais reforçada (com carne). Os pratos preferidos são frutas com mel, de preferência banana e mamão, e panquecas. "Gosto muito dos sucos e peço para minha mãe fazer igual. Mas o daqui é mais gostoso", comenta Rachele Silva, 6 anos. Mais atraente, a comida também ajudou a manter os estudantes nas escolas. Uma análise da prefeitura indicou uma redução de 70% nos índices de evasão escolar das creches ao ensino fundamental.

Desnutrição - Um número mais surpreendente foi alcançado namodalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é a categoria com maior desistência no país pelas dificuldades enfrentadas pelos estudantes, como dividir o tempo com o trabalho. Mas as escolas que oferecem o ensino, no Brejo da Madre de Deus, obtiveram 80% de conclusão no primeiro semestre. A coordenadora do projeto ainda destacou que, antes de modificar a merenda, foi constatado um alto índice de desnutrição e anemia entre os estudantes. Situação que começou a ser revertida nas 54 escolas da cidade, que atendem cerca de 12 mil alunos, muitos dos quais passaram a ver beterraba, cenoura e outros produtos como um estímulo para estudar.

Opções de merenda

- Escondidinho de macaxeira com carne de sol e vegetais

- Purê de inhame com picadinho de fígado

- Arroz com coco e isca de carne

- Arroz de leite com carne de sol

- Panqueca de carne com molho de tomate

- Bolo de jerimum com coco

- Vitamina de mamão

- Banana com mel

- Suco de laranja com beterraba

Uso está previsto em lei federal

 

De acordo com a Lei 11.974 de 2009, no mínimo 30% do orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação devem ser destinados à compra de produtos da agricultura familiar para alimentação nas escolas. Isso significa que cerca de R$ 600 milhões (orçamento de 2009) poderiam ser usados para adquirir produtos de, em média, 250 mil famílias agricultoras e "alimentar" cerca de 47 milhões de alunos da rede pública de todo o país. Para tirar dúvidas e estimular a prática deste consumo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lançou o site da Alimentação Escolar.


Com a criação do portal, a intenção do ministério é garantir a gestores públicos, organizações e nutricionistas o acesso às informações necessárias para implantar a lei. Os interessados podem acessar o site pelo endereço http://comunidades.mda.gov.br/portal/saf/programas/alimentacaoescolar. 


Segundo a coordenação do Programa de Alimentação Escolar, os primeiros passos para iniciar a compra de produtos da agricultura familiar são conhecer a produção local dos agricultores familiares, mobilizar as organizações de trabalhadores e apresentar estas organizações aos gestores públicos e ao Conselho de Alimentação Escolar. 


No site, os interessados podem encontrar um banco de dados e consultas sobre legislação, além de sugestão de cardápios. As alternativas de merendas, inclusive, estão separadas por estados de acordo com os alimentos típicos de cada região. Segundo a lei, devem ter prioridade a aquisição de gêneros alimentícios provenientes da reforma agrária, de comunidades tradicionais indígenas e quilombolas.

 

Fonte: Diario de Pernambuco 


 


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